sábado, 28 de março de 2015

Neymar e sua fratura no processo transverso da L3 (terceira vértebra lombar)

             
   

Durante as aulas de anatomia na Universidade Federal do Maranhão, ministradas brilhantemente pelo professor Flávio Furtado de Farias, no estudo do Sistema Esquelético, ele mencionou que em nossas vértebras existem os PROCESSOS TRANSVERSOS. Imediatamente me veio em mente a lesão ocorrida pelo jogador Neymar na fatídica Copa do Mundo realizada no Brasil. Durante o jogo contra o Chile, o jogador sofreu uma entrada criminosa entrada do jogador adversário e fraturou esse processo. Esse ocorrido, apesar de ser um acidente, abriu um mundo de interpretações e curiosidades que o blog relatará segundo suas pesquisas. Vamos a elas...
1) A fratura do processo transverso de vértebras lombares não é tão rara, mas muitas vezes é negligenciada.A lesão sofrida pelo jogador Neymar é comum quando se sofre um trauma violento na coluna lombar. Na verdade, das fraturas possíveis na vértebra, ela é a menos grave, e costuma se resolver sem sequelas após 4 a 8 semanas, contanto que seja tratada adequadamente. O problema é quando o paciente procura um médico e ele não desconfia dessa fratura, não solicita a Tomografia Computadorizada, e libera o paciente para voltar às atividades de casa, trabalho e esporte. Ou quando procura um fisioterapeuta que negligencia a possibilidade dessa fratura e realiza manobras bruscas na coluna lombar desse paciente. Em casos de histórico de trauma na coluna associada a dor persistente, existe a possibilidade de fratura. E mais um detalhe: a fratura do processo transverso de vértebra lombar é indicativo de que podem haver outras lesões associadas (Brynin e Gardiner, 2001; Xia et al, 2013).
2) A fratura do Neymar não ocorreu pelo trauma direto, mas pela contração dos músculos da coluna.Diferente do que se possa pensar, não foi o impacto do joelho do jogador colombiano sobre a coluna do Neymar que ocasionou a fratura do processo transverso esquerdo de L3 (terceira vértebral lombar), mas sim a força de tração exercida pelos músculos, principalmente o Transverso do Abdome (TrA) e o Quadrado Lombar (QL). Antigamente se pensava que o músculo psoas tinha papel importante sobre essa lesão, mas foi visto que o local mais comum da fratura (a ponta do processo transverso) é incompatível com a linha de ação desse músculo. Os músculos TrA e o QL se inserem na fáscia toracolombar, a qual se insere nos processos transversos e ligamentos intertransversais. A linha de ação do TrA é horizontal para fora, enquanto a do QL é oblíqua em dois sentidos: para cima e para fora, para baixo e para fora (Figura 1. Barker et al, 2007). O músculo que tem a linha de ação comprovadamente mais efetiva para provocar a fratura do processo transverso das vértebras lombares é o TrA. E as pesquisas comprovam que ele é capaz de exercer força suficiente para provocar a fratura do processo transverso de vértebras lombares, como aconteceu no caso de Neymar (Barker et al, 2007; 2010).
3) A lesão poderia ser pior, se Neymar não tivesse musculatura de atleta.No momento do impacto do joelho do colombiano sobre a coluna do Neymar, a reação dele foi uma contração muito rápida dos músculos locais, particularmente o TrA esquerdo, o que ocasionou a fratura já citada. Mas essa contração também serviu para proteger os órgãos do abdome, particularmente o rim esquerdo, os ureteres e o baço. Esse tipo de lesão secundária acontece em 55,7% dos casos em que ocorre fratura isolada do processo transverso de vértebra lombar, como foi o caso do Neymar. Uma lesão visceral agravaria o quadro e poderia prolongar a sua recuperação. A explicação para ele não ter machucado as vísceras é que, por ser atleta de alto nível, sua musculatura tem uma resposta mais rápida e mais forte do que a população geral, o que o protegeu de uma lesão mais grave (Brynin e Gardiner, 2001; Xia et al, 2013.
4) A recuperação exige cuidados especiais.Em lesões isoladas de processo transverso de vértebra lombar, o tempo médio para voltar a andar é de 16 dias; após 2 meses normalmente já se tem voltado a todas as atividades sem dor e sem sequelas. Mas alguns cuidados são necessários. Durante o período em que o osso não está consolidado, não se deve movimentar a região, sob o risco de interferir e retardar o processo de cicatrização óssea. Por isso que nessa fase orienta-se o uso de cinta ou colete abdominal, de modo que a musculatura não seja solicitada para manter a estabilidade lombopélvica. Esses pacientes não devem permanecer muito tempo em repouso no leito, mas devem andar assim que não sentirem dor (ou dor mínima) ao movimento. A lesão muscular deve ser tratada precocemente, pois ela pode gerar muitas aderências, principalmente se a imobilização for prolongada. A manipulação com thrust articular é contraindicada enquanto não houver consolidação óssea comprovada, mas a mobilização dos tecidos moles associada aos recursos termoterápicos pode acelerar a recuperação e o retorno às atividades, que deve acontecer de maneira natural, sem forçar. O tempo médio de retorno ao esporte para atletas de futebol que sofrem esse tipo de lesão isolada é de 3,5 semanas.
Referencias: 
http://fisioterapiamanual.com.br/blog/artigos/lesao-neymar-jogo-brasil/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Processo_transverso
http://www.auladeanatomia.com/osteologia/generalidades.htm

Um comentário:

  1. Rapazes, gostei muito desta postagem. Não conhecia o texto do Dr. Jailson Ferreira que vocês trouxeram e citaram nas referências. E aprendi bastante. Obrigado.

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